Realismo
"Há mais que uma realidade e nem sempre as conseguimos destrinchar no cinema. Elas imbricam-se, colam-se, deslizam.
Ainda assim, todos sabemos que, uma e outra vez, ao cinema é exigido, ainda que tacitamente, ou por ele resgatado, ainda que involuntariamente, um certo realismo.
O cinema tende a ser realista, e é essa tendência que explica a depreciação do cinema de animação ou do cinema experimental, ao mesmo tempo que elege o drama como o mais importante e profícuo dos gêneros e reconhece ao cinema documental uma nobreza intelectual elevada, pedindo-lhe uma moral impoluta.
Antes de um realismo narrativo ou figurativo, há uma condição quase ontológica que coloca, desde o primeiro instante, o cinema em contacto direto com o mundo, em que uma impressão dupla (da realidade na película, da imagem na mente) vem determinar toda a convenção do discurso cinematográfico."
Realidade mental
“O cinema é, substancialmente, um plano-sequência infinito, como o é exatamente a realidade perante os nossos olhos e ouvidos, durante todo o tempo em que nos encontramos em condições de ver e de ouvir (um plano-sequência subjetivo infinito que acaba com o fim da nossa vida). E este plano-sequência não é mais do que a reprodução da linguagem da realidade; por outras palavras, é a reprodução do presente. Mas a partir do momento em que intervém a montagem, ou seja, quando se passa ao filme, sucede que o presente se torna passado” (Pasolini, 195).
A realidade mental é a matéria dos filmes, tanto quanto o mundo material pode ser a matéria do cinema. Há algo num duelo de um western, no design de uma ficção científica, no verismo de um documentário, no silêncio de um plano que
nos parece palpável, como se tocássemos as ideias do realizador na sua mais clara manifestação. Mas sabemos também que, em muitos casos, tudo é uma mera questão de estilo, isto é, que a forma de olhar é, antes de tudo, uma forma de direcionar, de sublinhar ou diluir – eventualmente, mesmo de enganar ou, pelo menos, de iludir. Falamos, então, dos estilos realistas."
Realismo como estilo
"Esses estilos realistas seriam, no fundo, um dos vínculos possíveis entre a vida e as ideias – estamos em crer que são estas as duas matérias fundamentais do cinema. Estamos ao nível das ideias cinematográficas realistas, frequentemente, quando nelas encontramos um olhar sobre a vida. E estamos ao nível realista da vida muitas vezes quando a perscrutamos através das imagens cinematográficas."
Luís Nogueira, pags. 77 a 91
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