Os Cineastas e a sua Arte - Parte XII

Narrativa
"A forma como o cinema se transformou num fenômeno universal de apelo popular teve muito a ver com a instituição da narrativa como molde cinematográfico dominante. Por motivos naturalistas ou culturais, por hábitos dramatúrgicos ou constantes antropológicas, a narrativa tornou se a forma de (re)conhecimento privilegiado da humanidade. Ao longo da história do cinema, esta atitude universalista esteve, contudo, longe de ser incontestada e pacífica. Houve gestos de recusa que, muitas vezes, quase pareceram de repulsa e houve posturas relativamente tímidas, hesitantes ou desafiadoras da narrativa E, mesmo assim, permanece um claro predomínio cultural e uma aceitação geral deste modo discursivo, desde o (e devido ao) cinema clássico americano. O trabalho fundador de David Grifftith, que terá dito, comparando-o à técnica narrativa de Dickens, que o cinema “escreve romances com imagens” é emblemático dessa atitude. Esta proximidade ao romance e à narrativa literária em geral, bem como ao teatro, ainda que tantas vezes contestada, acabou por determinar muito daquilo que o cinema mundial foi e é."

Manifestos
"A história do cinema está repleta de momentos de fervor, tanto artístico como político, muitas vezes concretizado em manifestos. Por vezes, para muitos autores, a situação cultural ou social sua contemporânea parece tornar-se de tal modo insustentável que só a ruptura urgente e radical pode dar resposta aos receios existentes ou aos problemas vislumbrados. Muito frequentemente, a intenção ou o desejo de instaurar uma nova era estética ou política manifestaram-se de forma muito clara e quase intransigente. O que se procurou foi, uma e outra vez, enunciar ou discutir questões de grande urgência e grandeza no pensamento sobre o cinema, por exemplo, da ordem da ontologia ou da utopia: da ontologia, no sentido em que, de forma regular, se pretendeu determinar o que o cinema é, a sua especificidade, a sua essência; da utopia, no sentido em se que pretendeu, de igual modo, apontar o que o cinema deve ser, a sua teleologia, a sua promessa. Em todo o caso, é contra o estabelecido e o instituído que, usualmente, se luta, contra os perigos que se insinuam: de inércia criativa, de depauperação artística, de irrelevância cultural, de impotência política."

Luís Nogueira, pags. 131 a 162

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